sábado, 17 de março de 2007

E DÁ-LHE FUTEBOL NA TERRA DO PEQUI


Natural de Porto Franco, Maranhão, o comentarista esportivo Evandro Gomes, mudou-se para Goiânia em 1967. Com 18 de idade, iniciou sua carreia no rádio. Sua paixão por futebol foi um dos fatores determinantes para que escolhesse a mídia esportiva como trabalho. Devido a profissão, viajou o mundo inteiro e definitivamente fez seu nome em Goiás. Hoje, com 57 anos, Evandro Gomes é um dos mais conceituados jornalistas esportivos do Estado, além de ser conhecido não só pelo público, mas também pelos próprios colegas de trabalho como "O Sensato". "Eu acredito que a impressa goiana seja uma das mais exigentes do Brasil”.

Monara:
Em que aspecto você acredita que a mídia goiana se difere das outras?

Evandro Gomes:
A mídia esportiva goiana é composta de bons profissionais, porém acho que há um certo exagero por parte de alguns em relação aos abusos quanto à crítica à determinados jogadores, dirigentes, e ao esporte de uma forma geral. Trata-se de pessoas que vêem muito mais os aspectos negativos do que propriamente os positivos. Então, pelo o que eu tenho de conhecimento, pela vivência que eu tenho no rádio esportivo - já são quase 40 anos no meio - eu acredito que a impressa goiana seja uma das mais exigentes do Brasil, uma imprensa que cobra muito mais do que projeta. Tanto os times de futebol que representam o Estado, quanto os profissionais que jogam aqui em Goiás.

M: E de que forma você acredita que essas críticas afetam o futebol goiano?

EG:
Essas críticas afetam na maneira como são dirigidas à figura do ser humano e não do profissional. Afetam no sentido de que o futebol hoje é um produto de mídia muito fácil de ser vendido, e é necessário às vezes falar bem, não no sentido de com isso faturar, mas também não falar mal para não denegrir, desmoralizar o produto que você vende. Que argumentos terei eu com uma grande empresa ou um grande anunciante se eu todo dia usar o microfone da tv ou do rádio, ou mesmo o papel do jornal, só para criticar o esporte, os times que nos representam, aos jogadores que participam? É evidente que não se pode apenas elogiar. Contudo, a crítica deve ser feita com responsabilidade e no momento certo, sem ferir a pessoa, o ser humano, pois ao invés de analisar o desportista como profissional, a imprensa acaba julgando não o atleta, mas a pessoa. Isso é antiético, e não é para isso que nós estamos lá.

M: Alguma crítica feita já chegou a prejudicar o rendimento de um time em campo?

EG:
Sim, isso geralmente ocorre quando atinge-se, por exemplo, o principal jogador do time. Se ele não tem personalidade suficiente para assimilar a crítica, isso vai prejudicar seu rendimento. Da crítica vem a vaia da torcida, da crítica vêm as brigas fora de campo, da crítica vêm as rixas entre os próprios jogadores. E tudo vem daqueles que geralmente falam o que não devem. Dessa forma, considero a responsabilidade da imprensa muito grande nesse aspecto. Deve-se ter cuidado para saber promover, saber criticar, sem destruir.

M: Tem algum exemplo em específico do qual você se lembra?

EG:
Vários! Tive e tenho colegas, julgo aqui desnecessário citar nomes, que definitivamente não medem conseqüência daquilo que falam e, às vezes, irresponsavelmente, atingem um time de cheio, atingem a cidade sede do clube, e consequentemente não só seus torcedores, mas também seus moradores. Dizer que, por exemplo, um time do interior é time de roça, acaba ofendendo todo um povo que fatalmente sentirá seu orgulho ferido. As pessoas não dão àqueles que nem são nativos o direito de falarem mal de suas cidades, de agirem com menosprezo, utilizarem termos talvez agressivos, como roça, “botinudo”, caipira, botina, sem educação, etc. Esse tipo de atitude é nocivo até à classe jornalística que deveria ser punida caso faltasse com o respeito ou com a ética. Hoje, infelizmente, há um vasto número de jornalistas que esquece de ter feito o juramento de analisar as questões com respeito, responsabilidade e dignidade, acima de tudo.

M: E de que forma você acredita que esta punição deveria ser feita?

EG:
A princípio com uma suspensão. Se continuar da mesma forma, ferindo a ética da profissão e da classe jornalística em geral, que seja cassada a carteira do indivído. Assim como o médico, o dentista, o advogado, entre outros que se agirem com imperícia serão punidos. Acho que em qualquer profissão, se você não zelar e não honrar o compromisso que assumiu, o mais certo é punir, inicialmente com advertência, depois punição e, finalmente com a cassação dos direitos.

M: Na imprensa goiana, muitos já teriam sido punidos?

Evandro Gomes:
Com certeza. Já vivi momentos de horrores na imprensa de Goiás com a falta de respeito dos profissionais e colegas.

M: Mas seria este um problema do Estado de Goiás, em específico, ou geral, do país inteiro?

Evandro Gomes:
No Brasil todo. Falo de Goiás porque é o meu meio, é aqui que eu vivo. Conheço um por um dos colegas que tenho. E quem pensa que nosso meio é de união, talvez esteja enganado. Tempos atrás, isso talvez tenha existido, mas atualmente é muito raro. Em função da vaidade pessoal de alguns, da inveja de outros, da chamada “dor de cotovelo” daqueles que não se destacam, acabou aquele sentido de amizade. E isso é péssimo, pois agora parece ser cada um por si, e todos querendo a cabeça daqueles que se destacam. Isso tudo é também motivo de punição.

M: Imparcialidade é uma dos quesitos mais requeridos dentro do jornalismo. Imagino, contudo, que vocês da imprensa torçam pra algum clube. É difícil conter a emoção e manter-se imparcial quando é o seu time que está em campo?

EG:
Falo por mim, porque eu consigo me controlar. Embora eu tenha minhas preferências, faz-se aqui desnecessário citar quais, mas acredito que o jornalista no momento que ele usa o microfone, ele tem que se ausentar de qualquer tipo de paixão. Muitos não conseguem. Outros, ao tentarem mostrar uma isenção, acabam se tornando, às vezes, duros demais com o próprio time do coração. E isso talvez seja ruim. Assim, o melhor a se fazer, não é tentar esconder sua preferência, mas quando diante do microfone, esquecer que ela existe. Deixar o coração sofrendo por dentro, mas por fora, com o microfone ligado, não fazer nenhuma relação entre paixão e profissão, pois as duas definitivamente não combinam.

M: Você diz que consegue se controlar, mas e seus colegas da imprensa goiana? Na sua opinião, eles também se controlam?

EG:
A maioria não. Muitos torcem descaradamente, usam o microfone para defender interesses do clube para o qual torcem, sendo muitas vezes até desonestos com seus ouvintes, com seu próprio público.

M: O fato de o Vila Nova ter caído para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro, e de termos como representante no grupo de elite apenas o Goiás, afeta diretamente a imprensa esportiva goiana?

EG:
Com certeza! Seria de extremo benefício e inclusive motivo de orgulho termos como representantes o Goiás, o Vila Nova, o Atlético, o Goiânia, o máximo de times que pudéssemos, na primeira divisão do Brasileirão. Pego como exemplo o Paraná, que até pouco tempo era representado por três de seus times, até o Coritiba ser rebaixado. Outro bom exemplo seria o Sul, com os já tradicionais Internacional e Grêmio, mas também o Juventude que, apesar de pequeno, vem se mantendo já há um bom tempo na Série A. Então, isso é realmente de suma importância, pois se não tivéssemos pelo menos o Goiás lá nos representando, teríamos um futebol esquecido, assim como é o do meu estado, Maranhão, ou do Sergipe, Acre, Rondônia, Roraima, o da Bahia que caiu expressivamente depois que Vitória e Bahia se afundaram na Série C, etc. Outro problema é que o Goiás na posição de absoluto como está, acaba se desinteressando em formar um time apto a vencer não só os demais goianos, mas sim em nível nacional, ou mesmo internacional. O Goiás depois de ter participado da Copa Libertadores, ou mesmo ter sido bem sucedido em campeonatos um pouco mais expressivos, como a Copa do Brasil em que foi vice do Flamengo, supervalorizou-se, e para resolver este problema, acho que só com concorrência, que pra mim, neste caso, é saudável e salutar. Se você tem concorrente, você se aplica muito mais. Isso é em todo lugar. E com o futebol não seria diferente.

M: Em uma palavra, o que é melhor e o que é pior na mídia goiana em relação à nacional?

EG:
Melhor: Sensatez Pior: Idiotice

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